Terry Marcos Dourado - ABD Comunicação
Com informações de Francisco Cabral, da Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal de Jataí
A Câmara Municipal de Jataí recebeu, na tarde desta terça-feira, 23, a visita de Sua Alteza Imperial e Real, príncipe Dom João Henrique Maria Gabriel de Orleans e Bragança, descendente da família imperial brasileira. Durante a sessão solene especial, o monarca mais popular do Brasil recebeu uma homenagem em placa oferecida por todos os vereadores. O príncipe brasileiro esteve na cidade para proferir a palestra de abertura do I Congresso Nacional e 2º Congresso Regional do Curso de História da Universidade Federal de Goiás (UFG), que aconteceu entre os dias 23 e 26 de setembro.
Além de parlamentares, compuseram a mesa principal os membros do curso de história do Campus da Universidade Federal de Goiás; a secretária municipal da Educação, Marli Freitas Nery Garcia; o diretor da Universidade Estadual de Goiás (UEG) em Jataí, José Severino da Silva Filho; o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Subseção de Jataí, Mário Ibrahim do Prado; e o advogado Antônio Soares Neto, popularmente conhecido por “Toniquinho JK”, por ter questionado o então candidato à presidente da República, Juscelino Kubitschek, se caso eleito iria transferir a capital do País, do Rio de Janeiro, para o planalto Central, surgindo assim, anos depois, Brasília.
Bisneto da princesa Isabel, trineto de Dom Pedro II e tataraneto de Dom Pedro I, o príncipe Dom João Henrique, em seu discurso, lembrou as conquistas obtidas pelo Brasil com a vinda da família real portuguesa para o país, em 1808. Este ano, a Família Real Brasileira está recebendo homenagens por todo o País, inclusive a de hoje pela Câmara de Vereadores de Jataí, como parte das comemorações dos 200 anos da chegada da corte portuguesa ao Brasil. A transferência ocorreu sob o comando de do rei português Dom João VI, pai do futuro imperador do Brasil, Dom Pedro I, maior herói da independência nacional.
”Com a vinda da corte, o Brasil passou a contar com uma imprensa nacional, justiça civil e militar, Jardim Botânico (no Rio de Janeiro) e diversas instituições que ajudaram a modernizar e desenvolver o país”, ressaltou o príncipe brasileiro.
“Dom Joãozinho”, o monarca mais
popular do Brasil, é descendente dos
imperadores Carlos Magno e Gengis Khan
Descendente longínquo dos famosos ancestrais – Carlos Magno, rei dos Francos (de 771 a 814 d.C.), rei dos Lombardos (a partir de 774 d.C.), e ainda o primeiro imperador do Sacro Império Romano (coroado em 25 de dezembro do ano 800 d.C.), e restaurando assim o antigo Império Romano do Ocidente, pela descendência paterna; e do grande imperador Mongol, Gengis Khan (1162 a 1227 d.C., o comandante militar mais bem sucedido da história da humanidade, o homem que venceu as muralhas da China e extendeu o seu império ao sul e a oeste daquele País) – filho único e herdeiro do príncipe português Dom João Maria Felipe Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Orleans e Bragança (falecido em 2005) e da princesa egípcia Fátima Scherifa Chirine (morta em 1990), o príncipe Dom João Henrique Maria Gabriel Gonzaga de Orleans e Bragança traz consigo a responsabilidade de carregar um nome tão importante na criação do Brasil, enquanto nação.
Surfista, apaixonado pela natureza, o príncipe Dom João Henrique nutre, há mais de 30 anos, uma paixão especial pela fotografia que há o levou a publicar oito livros além de realizar inúmeras exposições pelo País. A fotografia também lhe proporcionou diversas experiências conhecendo, inclusive, pescadores e índios Yanomamis na visita que fez ao Xingu (MT), em 1978. Hoje, aos 54 anos, Dom João Henrique é reconhecido como um dos fotógrafos mais prestigiados do Brasil, sendo que em seus ensaios fotográficos, há sempre a preocupação de registrar paisagens e traços da cultura e da identidade brasileira.
A homenagem do Parlamento Jataiense
Dom João Henrique nasceu em 25 de abril de 1954. Casado com Dona Stella, é pai do casal João Felipe de Orleans e Bragança e Maria Cristina de Orleans e Bragança. O príncipe Dom João Henrique, além de fotógrafo profissional, é administrador de empresas no ramo imobiliário. Além disso, ele luta em favor das causas ambientais. Dom João Henrique aprendeu com o seu pai, o também príncipe, Dom João Maria de Orleans e Bragança, a amar o Brasil sobre todas as coisas.
Eis a íntegra do conteúdo da honraria em placa entregue ao príncipe brasileiro pelo presidente do Legislativo Jataiense, vereador João Wesley Moura (PP):
“A Câmara Municipal de Jataí, Estado de Goiás, homenageia a Vossa Alteza Imperial e Real, príncipe Dom João Henrique Maria Gabriel de Orleans e Bragança, representante da Família Real que contribuiu para a abertura dos portos no Brasil, também para a criação da Imprensa Nacional, a estabilidade democrática e a abolição da escravatura, nestes 200 anos da vinda do Rei Dom João VI para o Brasil, pela histórica visita à esta Casa de Leis, neste evento que se reveste de imperial importância.” – Vereador Dr. João Wesley Cabral de Moura, presidente; vereador Adilson de Carvalho, 1º Vice-Presidente; vereador André Pires do Nascimento, 2º Vice-Presidente; vereador Abimael Souza Silva, 1º Secretário e vereadora Maria José da Silva Lemes, 2ª. Secretária (Mesa Diretora 2008) e demais vereadores: Dr. Alcides Peregrino Fazolino, Dr. Ediglan da Silva Maia, Dr. Gênio Eurípedes Cabral de Assis, Geovaci Peres de Castro e Soraia Rodrigues Chaves – Câmara Municipal de Jataí, Estado de Goiás; Plenário João Justino de Oliveira, aos 23 dias do mês de setembro do ano de 2008.”
O presidente da Câmara Municipal de Jataí, vereador João Wesley Moura, iniciou seu pronunciamento de forma descontraída. “Tenho um sobrinho que me ligou perguntando se estariam aqui o Dom João e o Dom Pedro também por causa da minha barba, mas na verdade nós gostaríamos de agradecer, não só a presença do nosso príncipe aqui em Jataí, mas também agradecer à turma, ao grupo que dentro de uma programação, principalmente nos aspectos educacionais hoje, fazer um congresso dessa natureza. Quero parabenizar a todos, em detrimento de nomes, mas vocês estão de parabéns e nos dando a oportunidade, não só de historicamente, como Poder Legislativo, mas como comunidade de Jataí, como entidade universitária, é que a gente realmente fica agradecido por este movimento.”
“E é importante, quando a gente começa a questionar, e muitos ainda têm aquela dúvida, se realmente existe a Família Real no Brasil, se existiu Dom Pedro, Dom João... Então, o movimento político da monarquia, em si, muitos talvez não tenham talvez o conhecimento, não tenha aquela preocupação, não só de estudar, mas de ouvir ou de comentar sobre este fato da história nacional. E muitos confundem. Quando a gente fala em monarquia, eles acham que é um movimento contra a democracia, que é a anarquia. Não. Na verdade, quem sabe e conhece um pouquinho dos processos monárquicos mundiais sabe que o processo democrático ele é altamente vivido dentro da monarquia.
O príncipe brasileiro dá a sua
mensagem ao povo jataiense
A seguir, a íntegra do pronunciamento de Sua Alteza Real e Imperial, príncipe Dom João Henrique Maria Gabriel Gonzaga de Orleans e Bragança, popularmente conhecido por “Dom Joãozinho”:
“Senhoras e senhores, eu cumprimento a todos, às autoridades, ao público, na pessoa do senhor vereador presidente da Câmara de Vereadores de Jataí e, antes de tudo, me sinto muito honrado por esta homenagem, por estar aqui em Jataí nesta comemoração dos 200 anos da chegada de Dom João VI ao Brasil.
Em todas as falas, duas palavras me chamaram a atenção. Uma é a democracia, dita pelo senhor narrador da figura de Dom Pedro II e da importância do período imperial no Brasil, depois da chegada de Dom João VI no lançamento das sementes da democracia no Brasil. E a outra, é a educação, também, onde está acontecendo aqui esse congresso na UFG. Essas duas coisas têm muito em comum, a democracia e a educação.
Basicamente, vou resumir um pouco aqui, assuntos muito importantes para a formação do nosso País, da nossa Nação, como ele é hoje, como Nação, como já foi dito aqui tantas vezes. Uma Nação significa ter sentimento de nacionalidade. O Brasil, antes de 1808, não tinha este sentimento formado. O Brasil era uma colônia dispersa. Havia um movimento, sim, de independência, de separação, inclusive, mas não havia um sentimento de unidade territorial e um sentimento de unidade nacional. O Brasil certamente, se não tivesse vindo Dom João VI para cá naquele momento, e não tivesse deixado Dom Pedro aqui, o Dom Pedro ainda não I, mas Dom Pedro de Alcântara, que se tornou Dom Pedro I após ser coroado o primeiro imperador do Brasil, nós hoje – e poucas pessoas se dão conta disso – o Brasil seria, hoje, certamente, vários países divididos na América Latina. Basta olhar o mapa do Brasil e o mapa da América Latina e ver que a América Latina tem o Peru, tem o Equador, tem o Paraguai, o Uruguai, o Chile, a Argentina, são vários, todos países de língua espanhola, e o Brasil, de língua portuguesa, é um só país. Talvez, a maioria das pessoas não saiba por que o Brasil é um só, e os outros países são vários países divididos.
O Brasil seria, sim, dividido em vários países se, naquele momento, o Dom João VI não tivesse tido a visão estratégica e patriótica de pensar no Brasil como uma nação. Ele não pensou pequeno, ele pensou grande. Ele não pensou com nenhum interesse próprio. Ele pensou no interesse da nação brasileira. Ele pensou como homens públicos e homens de Estado devem pensar. Priorizar o País, a Nação em primeiro lugar. Ele pensou dessa forma, voltou a Portugal, fundou uma série de instituições aqui no Brasil. Acho que as instituições que começaram na época da chegada de Dom João VI e se solidificaram nos anos seguintes, são a base, talvez, da nação brasileira e da democracia brasileira. Sempre dizem que o País precisa de grandes nomes, mas grandes nomes à frente das instituições. Instituições sólidas e democráticas.
A democracia é a base de tudo. Pode ter um mau governo ou um bom governo, mas se não tiver a democracia, o bom governo não vai se repetir e o mau governo não vai sair. As liberdades de expressão, a liberdade de imprensa, são instituições que também nasceram no Império (Brasil Imperial). Não havia a imprensa no Brasil antes da chegada de Dom João VI. É difícil, talvez, para nós entendermos isso, mas o Brasil, antes da chegada de Dom João VI, era uma colônia que sequer tinha relações comerciais com países que não fosse através de Portugal, portanto, não tinha moeda local, não tinha imprensa, não tinha biblioteca, não tinha banco e nem o Jardim Botânico.
E quando se fala no Jardim Botânico no Rio de Janeiro, pensa-se em um jardim de visitação. Hoje em dia, é um passeio para as famílias aos domingos, mas naquela época, o local era um centro de pesquisas. Eu diria que era a “Embrapa” da época. A Embrapa que, hoje, é tão importante para todo o País. E nós podermos dizer isso aqui, neste município que vive basicamente da agricultura, e desse boom da agricultura brasileira, única da história do mundo, e sem dúvida, o Brasil ocupando o lugar de celeiro do mundo, sendo o maior exportador de soja, de carne e de café, tendo as maiores taxas de produtividade de soja por hectare, maiores até que as dos Estados Unidos, e a Embrapa ajudou muito nisso. Então, eu diria que o Jardim Botânico do Rio de Janeiro foi a “Embrapa” daquela época, há 200 anos. Então, tudo isso foram sementes que foram bem cultivadas e que resultaram num País como o que nós temos hoje. Um país sem guerras internas, sem conflitos de fronteira, e sem problemas étnicos. A gente também não se dá conta disso, mas a gente tem vários problemas, mas não temos certos outros tipos de problemas como os que existem na Europa, lá onde tem guerras, no Kosovo, na Irlanda, guerras religiosas. Graças a Deus, nós nunca tivemos isso.
Basicamente, por aquele momento, há 200 anos, quando da visão de Dom João VI sendo o Brasil um país-nação. E essas instituições, que foram criadas naquele tempo, como a Justiça Militar e a Justiça Real que, hoje, são embriões do Supremo Tribunal Militar e do Supremo Tribunal de Justiça, hoje em Brasília. E se hoje nós temos instituições independentes, o que assim deve ser numa democracia, como este Poder Legislativo que é independente do Poder Executivo e também independente do Poder Judiciário, sem dúvidas, com todos os trancos e barrancos que nós passamos, com várias ditaduras na República, nós podemos dizer que temos instituições sólidas no Brasil. Nós podemos dizer isso. E principalmente numa América Latina que está andando para trás, em matéria de democracia, em vários países vizinhos a nós, mas nós continuamos, graças a Deus, firmes com as nossas instituições.
É uma pena nós vermos uma América Latina que passou por ditaduras militares nas décadas de 60 e 70, e que conseguiu implantar a democracia em todos os países, vermos que vários desses países estão retrocedendo em relação aos direitos de expressão, aos direitos de imprensa, aos direitos humanos, aos direitos da oposição, pois são países onde a oposição muitas vezes é pressionada, é violentada. Isso, nós estamos vendo no mundo que até então estava indo muito bem em direção à democracia. Nós ainda somos, e acho que ainda vamos continuar um País onde as instituições defendam a independência e a democracia. Portanto, repito que é uma honra estar aqui em Jataí. Parabéns a Jataí, a vocês todos.”
Cumprindo uma extensa programação em Jataí, o príncipe brasileiro assistiu a um concerto realizado na Catedral do Divino Espírito Santo. Em seguida, no auditório da paróquia, proferiu a palestra de abertura oficial do Congresso Nacional de História, abordando as contribuições da corte portuguesa ao Brasil nestes 200 anos de história. A agenda de compromissos do príncipe terminou com um requintado jantar oferecido no casarão do Pontal do Urutal.
A intimidade e a personalidade
deste príncipe sem reino
Aos 54 anos, Sua Alteza Imperial e Real, príncipe Dom João Henrique Maria Gabriel de Orleans e Bragança não esconde de ninguém o seu orgulho por pertencer à à linhagem de descendência dos Orléans e Bragança, também de ser descendente do imperador “mais progressista da história” e da princesa que decretou o fim da escravidão no Brasil. Dom “Joãozinho” faz questão de preservar a história familiar com tenacidade.
Mas engana-se quem pensa que este príncipe se deixa entorpecer pelo título nobre e vive única e exclusivamente de seu passado. Pelo contrário, é um homem de espírito aventureiro, apaixonado pelo surf sendo o primeiro brasileiro a dropar na Indonésia, em 1976, tendo viajado de cargueiro por curiosidade também por não ter dinheiro para custear suas viagens de decoberta do mundo.
Além de dedicar sua vida a fotografar o Brasil e a publicar oito livros, Dom João Henrique também cuida dos negócios imobiliários iniciados pelo pai, D. João Maria, em Paraty (RJ). Aliás, é nesta cidade histórica e a capital carioca, onde mora a mulher, Stella, e os filhos João Felipe e Maria Cristina, que Dom João Henrique vive a maior parte de seu tempo. Amante da literatura, anualmente o príncipe brasileiro faz questão de oferecer um almoço aos escritores que participam da Festa Literária de Paraty e, ali mesmo, nos jardins de sua casa, promove um sarau de poesia.
Dom João Henrique disse que chegou a ser censurado pela revista americana New Yorker, que não publicou suas opiniões contundentes contra o governo Bush. Além disso, se emociona em comentar suas lutas sociais – a defesa do meio ambiente e a inclusão social dos portadores de deficiência –, esta, iniciada após o nascimento de sua filha Maria Cristina, que tem síndrome de Down.
Um fato que marcou a vida deste príncipe brasileiro foi o exílio a que seus antepassados foram submetidos. “O meu pai nasceu no exílio e foi registrado na embaixada brasileira. Ele veio para o Brasil logo que a lei do exílio acabou. O governo republicano teve a inteligência de esperar mais de 30 anos, tempo para que toda uma geração que viveu no Império e tinha simpatia e admiração por D. Pedro II morresse, para deixar que descendentes do imperador voltassem ao Brasil. Eles queriam ter certeza de que a popularidade de D. Pedro II não fosse transmitida para os seus descendentes” – desabafou o príncipe.
Dom João Henrique faz questão de ressaltar que pertence à primeira geração de sua família nascida no Brasil. “O meu pai tinha sede de Brasil, de conhecer um país contado através de seus avós. Papai optou por recusar vários empregos que dariam a ele uma aposentadoria maravilhosa. Ele morreu como tenente-coronel reformado, tendo servido à Força Aérea e participado da Segunda Guerra Mundial no patrulhamento da costa brasileira.
Dom “Joãozinho” revelou que seu pai, ainda quando servia a Força Aérea Brasileira, numa época em que a PanAir sofria dificuldades, fora emprestado, juntamente com diversos outros pilotos da FAB, pelo governo brasileiro, para ajudar a PanAir. Assim, seu pai acabou por conhecer a mulher que, futuramente, viria a ser sua mãe. “Mamãe era uma princesa egípcia. Naquela época houve uma resistência, como há até hoje, em casamentos entre muçulmanos e católicos. Mamãe teve que fugir do Egito. Eles se casaram em Portugal e não voltaram para o Egito. Ela, sim, voltou 27 anos depois, e também sofreu um exílio.
Ao ser indagado sobre o patrimônio financeiro da família, Dom João Henrique não se envergonha em dizer que, mesmo tendo o título nobre de príncipe, não teve uma vida fácil. “Meu pai, quando veio morar em Paraty, comprou terras com dinheiro das economias. Comprou em 1959. Ele, por ter tido uma carreira militar, não tinha a parte administrativa apurada. Se eu não tivesse ajudado, a gente tinha perdido o pouco que temos em Paraty, para onde eu tive que me transferir para fazer a minha vida e ajudar meu pai. As pessoas acham que a família real é rica, mas minha grande honra é não ter nada. A história da família é, sim, meu grande patrimônio” – revela com emoção, lembrando que, no passado, o imperador D. Pedro II morrera pobre.
O príncipe brasileiro revela uma curiosidade interessante. Segundo ele, as cores do Brasil são as mesmas cores que representam a cidade portuguesa de Bragança. “O verde da bandeira brasileira é o verde de Bragança. A República quis mudar as cores da bandeira, houve resistência. Quis mudar o formato da bandeira, houve resistência. Como todo governo de força, tem que mudar todos os símbolos. A República inventou que o verde era da mata. O verde da bandeira brasileira é o verde-bragança” – desabafou.
Sua Alteza Imperial e Real, príncipe Dom João Henrique Maria Gabriel de Orleans e Bragança revela que sente muito orgulho em viajar pelo Brasil e de ser sempre recebido em todos os lugares com muito carinho, como aconteceu na visita que fez à Jataí (GO), em 23 de setembro último. Sobre a forma de tratamento que tem recebido pelo País, o monarca brasileiro revela que todos o chamam de Dom João. “A formação de príncipe é saber que ele é igual a todo mundo e que deve respeito a qualquer um de seus cidadãos” – comenta.
Mas não foi apenas dificuldades financeiras que o príncipe brasileiro enfrentou ao lado de sua família. Ele também sentiu na pele a maldade do preconceito social, após o nascimento de sua filha Maria Cristina, que tem Síndrome de Down. “Nós sempre lutamos pela escola, levamos muito na cabeça, nos decepcionamos muito, passamos momentos difíceis. (...) A Cláudia Werneck, diretora da ONG Escola de Gente, deu consultoria para uma recente novela do Manoel Carlos (Páginas da Vida, exibida pela Rede Globo). E uma certa vez, na escola da minha filha, fui receber o boletim com os outros pais e fui ficando por último, por último, e não recebi o boletim da minha filha. Falei: “Professora, a senhora esqueceu”. Ela veio: “Não, não esqueci. É que depois vou chamar você e entregar pessoalmente”. Pronto! Me senti o patinho feio da história, o diferente, quando não deveria ser. Nosso conceito é que todos somos diferentes. Nenhum ser humano é igual. Temos direitos e obrigações iguais, mas não somos iguais. E é a convivência com a diversidade que nos dá cidadania, solidariedade e respeito. Posteriormente, comentei essa história do boletim com a Cláudia Werneck e ela passou isso para a TV Globo. Vi minha história ali, sendo retratada na novela, e achei isso muito útil” – disse, emocionado.
A respeito dos 33 anos de exílio vividos por sua família, o príncipe brasileiro Dom João Henrique Maria Gabriel de Orleans e Bragança revela que o ocorrido não foi por culpa do Marechal Deodoro da Fonseca. “Ele era monarquista. Por seus textos, ele foi um testa-de-ferro do movimento da jovem guarda do Exército, não era da Marinha. Era um grupo de alunos e jovens da Escola Militar da Urca. Havia o nome “República” no ar, mas deslanchou através disso” – revela.
O monarca brasileiro confirmou a história de que, no exílio, sua família não aceitara dinheiro do governo brasileiro. “De fato, D. Pedro II não aceitou. Mesmo os republicanos tinham muita admiração por D. Pedro II, por toda a dedicação dele, 49 anos de governo, por seu patriotismo e sua ética. Mandaram uma pensão para ele no exterior. Ele disse que não podia receber dinheiro do Brasil sem estar servindo à nação brasileira. Acho que ele cometeu um ato de exagero, porque ele teria direito à uma aposentadoria. Mas foi radical, ele escreveu: “Desejo sucesso ao novo governo do meu país”. Não estava preocupado se era ele quem estava liderando o país, ou mesmo que o novo governo tenha entrado pela força, estava preocupado com o futuro do país. Essa é a postura de um patriota” – comentou o príncipe.
Sobre os recentes fatos da política nacional em Brasília, Dom Joãozinho é enfático em suas críticas. “Quando você está na oposição e não aprova projetos para o seu país porque vai deixar em evidência o sucesso do governo opositor, isso é um crime de lesa-pátria e acontece com todos os partidos, há muitos anos. Várias propostas, a exemplo da Reforma da Previdência e a Lei da Responsabilidade Fiscal, foram negadas pelo partido hoje no governo. Então, pergunto, é patriota alguém que, sabendo ser a lei importante para uma melhor qualidade de vida de 180 milhões de habitantes, vota contra essa lei por interesses políticos?” – alfineta o príncipe.
Aliás, politicamente falando, Dom João Henrique Maria Gabriel de Orleans e Bragança se declara um parlamentarista convicto. “Quando aconteceu o plebiscito aqui no Brasil, eu participei dele e, à época, me perguntavam: “O senhor é monarquista?”. Dizia que era muito mais parlamentarista que monarquista. E os jornais insistiam: “Mas o senhor faz parte da família real!”. Falei: “Sou da família real porque fui educado a respeitar meu país com qualquer regime, em qualquer hora, com qualquer governante, desde que constitucional e democrático”, mas acho que o parlamentarismo funciona melhor que o presidencialismo.
A respeito da renovação do sistema político brasileiro, o príncipe ressalta o valor da democracia. “Nós temos uma democracia e ela só necessita ser aperfeiçoada. Temos um sistema de eleição e de apuração de resultados considerado um dos mais transparentes do mundo. Temos liberdade de imprensa. A República tem instituições fortes e tem que cuidar para que elas não enfraqueçam. É perigoso jogar referendos nas ruas, porque nem sempre a população tem clareza para decidir sobre assuntos em que pode estar influenciada pela emoção do momento” – disse.
Ao ser questionado sobre a viabilidade do retorno da monarquia no Brasil, o príncipe brasileiro assim respondeu: “É interessante o sistema hoje, moderno, de monarquia parlamentar: você tem um chefe de Estado sem partido político, sem rabo preso com nenhum setor corporativo da sociedade, nem banqueiros, nem empreiteiros. Tem total independência, como os ministros do Supremo Tribunal Federal, vitalícios. A história do cargo vitalício não é um anacronismo do mundo moderno: é um modo de dar independência e isenção. A monarquia moderna, não a da Inglaterra, mas a da Suécia, a da Noruega, da Dinamarca e da Bélgica, funciona e tem altíssimos níveis de aprovação porque o rei é chefe de Estado, não pode dar opinião política. Mas no Brasil, hoje, não há um lugar para isso.
Dom Joãozinho revela que, por tradição familiar, não pode participar de forma atuante da vida político-partidária do Brasil. “Não posso participar por causa da minha história, não é por lei. Tenho opiniões, voto, mas não posso expor minhas preferências. Como manda uma tradição familiar de séculos: participar da vida pública brasileira sem ter publicamente uma luta partidária ideológica, mas sempre atento às liberdades e à constituição da democracia” – esclarece o príncipe.
Perguntado sobre como ele lida com o jet set, o lado mais fútil da nobreza, Sua Alteza Imperial e Real, príncipe Dom João Henrique Maria Gabriel de Orleans e Bragança, apenas ri e responde: “Não lido. Em uma certa entrevista minha, eu disse que se tiver um ano para ficar indo de festa em festa, eu fecho a casa e vou fazer uma coisa mais interessante. Já me perguntaram várias vezes, em programas de TV e entrevistas, o que é ser nobre. Nobre não está no sangue nem no nome. Nobre é o sujeito que tem gestos nobres, valores e postura nobres” – finalizou o mais popular monarca brasileiro da atualidade.
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