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24 de nov. de 2007

Pastor evangélico, que teria sido flagrado contando alta quantia em dinheiro dentro da prefeitura, se inocenta em uma explicação confusa

Inocente? Culpado? Ingênuo? Aproveitador?... Explicação confusa de pastor evangélico é um enigma a ser desvendado pelo Ministério Público.
Jataí (GO) - O que um pastor evangélico teria a ver com um suposto projeto de construção de uma biblioteca pública em Jataí? Por que este pastor evangélico, que tem ligações de amizade com os irmãos Fernando Peres e José Renato Assis, estaria, segundo denúncia protocolada no Ministério Público em Jataí, contando cédulas de dinheiro em pleno gabinete do irmão do prefeito, José Renato Assis, à época secretário geral de Governo da prefeitura (2005)?. Estas são algumas das perguntas que compete ao Ministério Público (MP) elucidar e esclarecer a população jataiense, após ter recebido denúncia formal e cópia de uma gravação em áudio onde o pastor evangélico tenta se explicar, mas pelo seu nervosismo, faz uma narrativa muito confusa, aumentando o enigma da situação.
Na reunião com lideranças políticas realizada na terça-feira, 20, no plenário da Câmara de Vereadores, o vereador Ediglan Maia (PSDB) exibiu cerca de sete trechos de gravações em áudio onde personagens dos supostos esquemas fraudulentos realizados nos primeiros anos da administração do prefeito Fernando Peres (PR) revelam detalhes destes esquemas e como, deles, teriam participado.
Mas, nem uma outra gravação chamou tanta a atenção do público presente à reunião quanto a que mostra a voz de um conhecido pastor evangélico em Jataí tentando explicar um flagrante da qual fora vítima em 2005.
Este pastor evangélico (nome, por enquanto, preservado a pedido do Ministério Público) e o então secretário geral de governo, José Renato Assis, segundo a denúncia protocolada no Ministério Público (MP), foram flagrados, em um certo dia de 2005, contando alta quantia em dinheiro vivo na mesa do gabinete do então secretário geral de Governo e irmão do prefeito Fernando Peres. Tempos depois, nas últimas semanas, ao ser questionado sobre o episódio, o pastor evangélico, sem imaginar que a conversa estava sendo gravada, com muita tensão e nervosismo na voz, deu a sua versão sobre o fato. O trecho desta conversa, autorizado pelo MP para divulgação, foi exibido ao público na reunião com partidos políticos realizada no dia 20 de novembro, no plenário da Câmara Municipal.
O flagrante denunciado ao MP tem como personagens o pastor evangélico (cujo nome, ratificamos, vamos omitir a pedido do Ministério Público e do denunciante para não atrapalhar as investigações), um suposto lobista e o então secretário geral de Governo, José Renato Assis. Para facilitar a compreensão, devido à dificuldade que o pastor teve em tentar se explicar, devido ao aparente nervosismo e tensão de sua voz e à repetição de palavras, vamos reproduzir aqui as explicações do pastor na forma de diálogo.
Mas atenção! A degravação da fita que ouvimos será fielmente reproduzida a seguir, sem qualquer distorção, mudança de palavras ou acréscimo de informações. Apenas, vamos reproduzir no formato de diálogo e não no formato explicativo, para facilitar a compreensão do leitor. Eis o trecho divulgado:
PASTOR (EXPLICANDO O FLAGRANTE, DEMONSTRANDO MUITA TENSÃO NA VOZ): “(...) E ele (o suposto lobista) começou a ter esse contato com o Fernando (Peres, o prefeito) e com o José Renato (Assis, irmão do prefeito), só que eu o tenho como estelionatário, apesar de eu já ter tido contato com ele (o suposto lobista) na minha casa. Ele (o suposto lobista) tinha contato comigo, e hoje (à época do flagrante) não tem mais. Naquele dia lá, ele (o suposto lobista) tinha ido a Goiânia, foi a Brasília, ele (o suposto lobista) tinha feito um projeto arquitetônico e um projeto pedagógico para construir uma biblioteca pública cultural (em Jataí). Naquele dia, ele (o suposto lobista) levou o projeto para o José Renato mostrar para o Guedes (Djelson Guedes, assessor jurídico da prefeitura), para a Sueli (seção de documentos). Eu acho que o Fernando (Peres, o prefeito) já tinha até assinado o projeto. O projeto, eu acho que era de uns R$ 800 mil. Aí, naquele dia, o José Renato me chamou lá (no gabinete da então Secretaria Geral da prefeitura), conversou e tal, e falou que queria que eu acompanhasse aquele negócio lá (a apresentação do projeto pelo suposto lobista). Cheguei lá, tô lá na mesa dele, daí ele, o José Renato, falou assim pra mim:”
JOSÉ RENATO (SEGUNDO O PASTOR): “Pastor, o senhor sabe que para aprovar o projeto lá em Brasília, pra sair mais rápido precisa de um dinheiro...”
PASTOR (EXPLICANDO O FLAGRANTE): “... e que ele (o José Renato) tinha falado com ele (o suposto lobista) antes, e que ele (o suposto lobista) tinha pedido R$ 10 mil ou R$ 11 mil para dar pros cara lá em Brasília, para cobrir os custos do projeto. Aí, o José Renato saiu da sala, ficou só eu e ele (o suposto lobista)(no gabinete), daí eu disse:”
PASTOR (FALANDO AO SUPOSTO LOBISTA): “Reinaldo (o suposto lobista), Reinaldo, cara você é muito pilantra. Pra que esse dinheiro?”
PASTOR (EXPLICANDO O FLAGRANTE): “O cara (Reinaldo, suposto lobista) estava com o projeto na mão...”
PASTOR (FALANDO PARA REINALDO, O SUPOSTO LOBISTA): “Eu sei que você está tentando tirar o prejuízo do show (aqui, o pastor não menciona qual show) ...”
PASTOR (EXPLICANDO O FLAGRANTE): “... Aí o José Renato me ligou. Eu disse: “José Renato, não dá dinheiro pra esse cara! Não dá dinheiro pra ele, Zé!”. Mas o José Renato já tinha providenciado aquele dinheiro, pegado emprestado não sei com quem, e eu disse “Não dá dinheiro Zé! Eu nunca ouvi falar que para aprovar um projeto tem que por dinheiro na mão do cara! José Renato, não dá dinheiro pro cara! O cara ficou bravo comigo, chegou a bater o projeto na mesa e disse:“
“REINALDO” (O SUPOSTO LOBISTA): “Pastor, eu achei que o senhor era meu amigo!”
PASTOR (EXPLICANDO O FLAGRANTE): “Eu disse pra ele: “Você pega esse projeto, põe na bolsa e vaza daqui!”. Ai ele me fez uma pressão antes do José Renato voltar para a sala (o gabinete do próprio José Renato Assis, irmão do prefeito Fernando Peres):”
“REINALDO” (O SUPOSTO LOBISTA, NERVOSO): “Então eu vou levar este projeto para Rio Verde. Rio Verde é quem vai ganhar com isso. Você (o pastor) não estão querendo me ajudar. Vou falar para o José Renato, a hora que ele chegar (retornar ao gabinete) ...”
PASTOR (EXPLICANDO O FLAGRANTE): “Eu (o pastor) disse pra ele (Reinaldo, o suposto lobista): “Então chama o Guedes e a Sueli, porque não tem nada de errado neste projeto (pra não ter que pagar ninguém), mas eu não concordo com esse negócio desse dinheiro, Reinaldo”. Ele (o suposto lobista) me disse:””
REINALDO (O SUPOSTO LOBISTA AO PASTOR): “O senhor sabe que para eu aprovar esse projeto em Brasília eu preciso deste dinheiro...”
PASTOR (EXPLICANDO O FLAGRANTE): “Eu (o pastor) disse a ele: “Mas, eu não concordo. Eu falei para o José Renato não te dar este dinheiro.” – Ele (o suposto lobista) ficou bravo comigo, ficou vermelhinho, e tal... Ai, o José Renato entrou na sala (em seu próprio gabinete), com um pacote em um envelope. Eu tava lá. Só isso. Mas eu estava confrontando ele (aqui, o pastor parece se referir ao José Renato Assis, então secretário geral da prefeitura). Aí ele arrumou esse dinheiro, pegou emprestado com agiota, não sei, e deu o dinheiro pro Reinaldo na minha frente. Foi a hora que ele (Reinaldo) começou a contar esse dinheiro lá...” (fim do trecho divulgado ao público.)
NOTA DO JORNALISTA: Trechos transcritos, sem qualquer alteração, do material em áudio apresentado na reunião realizada na terça-feira, 20 de novembro, com partidos políticos, no plenário da Câmara de Vereadores).
Terry Marcos Dourado
Imagens: Arquivo Eldorado
Artes Visuais: Terry Marcos Dourado/Agência Eldorado

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