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26 de nov. de 2008

O relato real de duas horas de terror

Terça-feira, 25 de novembro de 2008. Por volta das 20h35min, o telefone de minha residência toca. Eu, no banho. Meu pai, 67 anos, na rede da área de serviço assistindo ao Jornal Nacional. Minha mãe, atende a ligação telefônica que daria início aos minutos de terror que relatarei, em síntese, a seguir.
LEIA ESTE TEXTO NA ÍNTEGRA E SINTA A AGONIA DE RECEBER, POR TELEFONE, O ANÚNCIO DO SEQUESTRO DE UM FAMILIAR QUE VOCÊ NÃO CONSEGUE LOCALIZAR E, SOMENTE DUAS HORAS DEPOIS DESCOBRIMOS QUE HAVÍAMOS SIDO VÍTIMAS DO TROTE TELEFÔNICO DO FALSO SEQUESTRO. ESTA NOITE, EU E MINHA FAMÍLIA, TESTEMUNHAMOS MINUTOS DE TERROR E PÂNICO.
Minha mãe, 58 anos, portadora de problemas coronários (três safenas e duas mamárias), além de ser hipertensa, começa aparentemente cataléptica a responder perguntas que lhe são feitas do outro lado da linha. Um ponco antes de eu presenciar tal cena, ainda no banho, ouvira minha mãe falar meio desesperada, porém, em baixo tom de voz, para meu pai ir falar com a pessoa ao telefone, mas que “pelo amor de Deus, não se exaltasse com a pessoa”. Fiquei sem entender a razão. E, de repente, meu pai sai de casa, misteriosamente.
Ao sair do banho, minha mãe me faz o sinal para permanecer calado, sem fazer qualquer barulho. Impaciente e estressado que sou por natureza, aquilo me incomodava de tal forma que comecei a xingar a tal pessoa que estava do outro lado de uma ligação que já demorava cerca de meia hora, principalmente porque a pessoa parecia querer informações a meu respeito e sobre dinheiro.
Só alguns minutos depois, que a ligação “caíra”, minha mãe, em estado de choque emocional, me disse com uma voz embargada, que mal lhe saía da boca: “Fica quieto! Não faça barulho. Seu irmão foi pego por bandidos. Ele tá seqüestrado...”
Tamanho foi meu susto que, por um instante, não senti o chão debaixo dos meus pés e minha pressão arterial começou a dar picos de elevação também. Quis, através da linha telefônica do meu escritório, avisar a polícia. Minha mãe não deixou. “Eles disseram que se tentarmos avisar a polícia ou fazer qualquer tipo de ligação para o celular do se irmão, eles vão matar ele...” Relatou-me minha mãe, cada vez mais em estado de choque.
Em síntese, o que minha mãe lembra da conversa telefônica foi que o bandido, no início da primeira ligação, disse que fazia parte de uma quadrilha que de seqüestradores de outra localidade, que estava na cidade para cumprir uma encomenda. Eles deveriam seqüestrar o filho de um médico local, mas teriam pego meu irmão por engano.
A essa altura do papo, talvez sem se aperceber, minha mãe talvez (ela não tem certeza se chegou a dizer) teria deixado escapar o nome do meu irmão. Na continuidade da conversa, o bandido pedia que minha mãe não desligasse o telefone e fingisse falar com uma amiga, pois ao menor sinal que ela desse sobre o que, de fato, estava acontecendo, eles matariam meu irmão.
De repente, um rapaz gritando, chorando muito, começou a falar: “Pelo amor de Deus, mãe, não me deixa morrer não! Eu to aqui no carro com eles, mãe! Eles vão me matar! Não quero morrer, mãe! Eu não quero morrer!”... O bandido volta a falar com minha mãe e, de repente, dá uma ordem para que tirem meu irmão do porta-malas do carro e peguem uma metralhadora.
O bandido revela à minha mãe que quer dinheiro. Inicialmente, pede 300 reais em créditos para celular. Minha mãe revela a eles que não somos ricos, que meu pai é funcionário público da prefeitura, e ela, funcionária pública aposentada. Daí o bandido aparenta comoção. Fala que vai soltar meu irmão, mas que depende do comportamento dele. Volta a pedir para minha mãe não avisar a polícia, nem às demais pessoas da casa, caso contrário, meu irmão pagaria com a vida.
Ao mesmo tempo em que revelaram ter trocado tiros com policiais e estarem cercados pela polícia, o bandido pede que minha mãe não avise à polícia sobre aquele contato telefônico e sobre o seqüestro do meu irmão. Estranhamente, pede para que não façamos barulho e desliguemos a televisão.
Não agüentando mais a situação, vou ao meu escritório e, usando meu telefone ligo para o Cesut. Sem poder revelar o que se passava e, sob forte tensão emocional, solicitei à atendente que localizasse meu irmão na sala de aula em que ele estaria e, cinco minutos depois, eu estaria ligando novamente para ouvir a voz dele. Era a única forma que eu tinha para confirmar ou não a veracidade do tal seqüestro a meu irmão.
Para piorar as coisas, com muita frescura e má vontade, a atendente, funcionária da secretaria do Cesut se recusou a atender minha solicitação, mesmo eu tendo dito a ela que se tratava de algo muito grave, mas que eu não poderia revelar naquele momento (à pedido de minha mãe, que continuava ao telefone com o bandido). Mesmo assim, a infeliz se recusava a atender-me. Perdi a paciência e, de forma grosseira e deselegante, acabei convencendo, não a ela, mas a segunda atendente, que também havia se recusado a atender minha solicitação, a finalmente localizar e chamar meu irmão ao telefone.
Outros cinco minutos se passaram, no total de dez de tentativas de convencimento às funcionárias do Cesut. Até que veio o pior. A atendente me disse que meu irmão havia se ausentado da sala antes mesmo da primeira aula acabar, e que não mais voltara. Entrei em pânico. Tudo isso parecia não estar acontecendo! Foi horrível! Não havia mais nada a fazer, a não ser esperar por novos contatos do bandido que, nesse momento, havia desligado a ligação.há alguns minutos atrás.
O tempo passava. Já eram mais de 22h15min, porque o capítulo da novela A Favorita (TV Globo) terminava naquele instante. Minha mãe, ali, sentada defronte ao telefone. Muda. Catatônica. Meu pai, superhipertenso, apavorado num pavor silencioso do lado de fora da casa. Havia tirado os únicos R$ 20 que tinha em sua conta bancária e comprado em créditos para celular, que foi repassado ao bandido enquanto ainda falava ao telefone com minha mãe, minutos atrás. (...) Situação angustiante, de final imprevisível.
A mim, só restava pedir ajuda a Deus e aos meus Orixás protetores. E assim fiz, com forte emoção e devoção. Minha mãe, começa a cair em si. Vem o desespero de uma mãe que não quer ter a notícia de que o filho fora assassinado. Ou, pior, de que o filho poderia estar sendo cruelmente torturado naquele exato momento. Pensamentos nefastos, vieram aos montes em nossas cabeças fervilhantes... Até que, mais ou menos meia hora depois de eu ter feito minhas orações, alguém mexe no portão e, calmamente adentra aos fundos da casa..
Ufa!... Era meu irmão!... Não acreditava no que estava vendo. Ele ali, diante de mim. Vivo! São e salvo! E com cara de bobo sem saber o que estava acontecendo. Minha mãe continuava em “transe”, coitada. Não havia dado conta de que seu filho até então “seqüestrado”, estava ali diante dela, vivo! (...) Minutos depois, mesmo tendo abraçado meu irmão, minha mãe não saíra defronte ao telefone, como se estivesse esperando contato do tal bandido seqüestrador. Até que a retiramos dali e, após conversarmos cautelosamente com ela e de lhe darmos seus medicamentos, finalmente ela caiu em si e, chorando muito, custou a acreditar que, felizmente – e graças a Deus –, todos os minutos de pânico e terror pelo qual passara (também eu e meu pai passamos) não passou de mero trote telefônico.
Trote do seqüestro telefônico aumenta
assustadoramente em Jataí e no resto do País
O trote de seqüestro por telefone é um tipo de crime que vem crescendo assustadoramente no Brasil. Ele consiste na atuação de bandidos que, munidos de celular, ligam e alegam manter refém algum parente da vítima. Aproveitando-se da situação de desespero, agem exigindo dinheiro de resgate. Só no ano passado, aproximadamente dez mil pessoas nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Luís, Porto Alegre e Brasília sofreram o golpe.
Geralmente, o crime é aplicado durante a madrugada, quando o susto e o nervosismo fazem com que as vítimas acreditem mais facilmente na falsa história. Para dar maior realismo à ameaça, os golpistas usam pessoas que aparecem chorando ao telefone desempenhando o papel do parente seqüestrado.
Foi dessa forma, por exemplo, que aconteceu em São Luís, no Maranhão. Maria Martins Bringel, de 80 anos, morreu após receber ameaças de seqüestradores. Ela, que era hipertensa, atendeu a um telefonema de homens que diziam ter seqüestrado sua neta, de 16 anos, que estaria desesperada nas mãos dos bandidos. A idosa passou a apresentar problemas de saúde, foi internada, entrou em coma e não resistiu no hospital.
Na Grande São Paulo, outra aposentada perdeu a vida após receber ameaças. Mércia Mendes de Barros, 67, teve um infarto fulminante após receber telefonema revelando que um dos filhos estava em poder dos bandidos. No Rio de Janeiro, crimi­nosos exigiram que uma ame­ricana, moradora de São Paulo, levasse celular, jóias e dinheiro em troca do filho, de 30 anos.
A extorsão por telefone começou de madrugada. Vicki Mastrandrea Justi, 59, foi acordada por bandidos que diziam ter seqüestrado seu filho. Eles a obrigaram a dirigir até o Rio e exigiram dinheiro, celulares e jóias em troca da libertação do rapaz.
Convicta, a americana pegou a estrada por volta de 1h30 e chegou pela manhã na cidade carioca, onde já se dirigia para uma comunidade carente. Mas, graças ao trabalho dos policiais, foi interceptada e avisada de que se tratava de mais um caso do golpe do falso seqüestro.
Leia, a seguir, 12 dicas para evitar cair no golpe:
1 – Orientar familiares e empregados a notificar quando tomarem conhecimento sobre o atendimento de contato telefônico, conversas com empregados ou outras pessoas que impliquem “suspeita de levantamento” de informações de caráter pessoal;
2 – Não informar a ausência ou o paradeiro de ninguém pelo telefone; solicitar a qualquer pessoa que ligar, que se identifique e deixe o número do telefone de onde está falando para que se faça contato posteriormente;
3 – Nunca aja impulsivamente, não aja sob emoção, mas com a razão;
4 – Ao receber um telefonema comunicando que um familiar ou amigo está acometido de uma doença ou sofreu um acidente, peça todas as informações possíveis sobre o caso antes de tomar alguma providência ou atitude. Solicite informações também sobre quem está falando e solicite um telefone da unidade para confirmação. Servidores públicos nunca ligam a cobrar de telefones celulares;
5 – Em ligação que comunica que algum familiar ou amigo foi “seqüestrado”, insistir para falar diretamente com ele;
6 – No caso de ligação que, em primeiro lugar perguntar, “Quem está falando?” ou “De onde estão falando?”, não forneça nenhuma dessas informações. Diga sempre: “Quer falar com quem?” Responda por intermédio de outra pergunta: “Quem deseja falar?” ou “Que número discou?”;
7 – Ligação pedindo confirmação do endereço para a entrega de presentes, brindes ou flores, procure saber de onde fala e qual é o nome do estabelecimento, dizendo que ligará em seguida dando a informação solicitada;
8 – Tente localizar a suposta vítima do seqüestro utilizando todos os recursos possíveis, acionando amigos, parentes e familiares, sem fazer comentários de um possível seqüestro;
9 – Ao receber ligações deste tipo, mantenha a calma. Finja, a princípio, que acredita na história, mas não forneça número de conta, senhas, dados pessoais como CPF e identidade e nem mesmo números de outros telefones ou celulares que possua (os bandidos pedem estes números para ligar e mantê-los ocupados. Assim, você não pode acionar a Polícia e nem telefonar para a pessoa que eles dizem ter sequestrado);
10 – Diga que está sozinho (a), e se tiver um outro telefone ou celular com você ou com alguém da família, ligue para seus familiares, pergunte sobre a pessoa que eles dizem ter sequestrado e também para a Polícia;
11 – Desligue o telefone. Eles não vão mais ligar para você quando perceberem que o golpe não deu certo;
12 – Por fim, havendo dúvidas, trate a ligação como se fosse realmente um caso de seqüestro e tome as providências exigidas.
Ainda sob forte tensão, após a chegada de meu irmão em casa e a constatação de que tudo fora um trote, entrei em contato com o plantão da Polícia Militar local. O atendente informou-me que, nestes casos, não há nada a fazer, além das providências de precaução e verificação do trote. Segundo o plantonista, tem crescido muito o número de vítimas, em Jataí, dos tais trotes telefônicos anunciando seqüestro de familiares. O trote que aterrorizou minha mãe e minha família na noite de 25 de novembro, segundo a Polícia Militar, era o quarto caso ocorrido somente nesta terça-feira, em Jataí, o qual a polícia tinha conhecimento.
Ainda segundo o policial militar, tem sido cada vez mais freqüentes ligações oriundas de presídios dos Estados do Rio de Janeiro e Pernambuco, para residências e comércios em Jataí, dentro do esquema do trote telefônico do falso seqüestro.
Decidi tornar público este episódio particular ocorrido na privacidade de meu lar, porque na condição de jornalista, tenho o dever social de alertar as pessoas para que evitem passar pela tortura psicológica que minha mãe, meu pai e eu passamos esta noite. Principalmente eu que, em 5 de maio de 1997, morando em Goiânia, fora vítima de um seqüestro relâmpago real, com mais de cinco horas de duração, que resultou no roubo de todos os meus pertences e em sessões de tortura com quase 20 perfurações de tesoura (seria faca, mas por minha sorte, elas não foram encontradas) pelo meu corpo, e várias coronhadas de revólver na cabeça e no meu rosto. Este caso foi registrado na 1ª. DP do centro da Capital.

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